É assim chamada devido a presença de febre acompanhada de sintomas articulares bem característicos.
Normalmente, a febre reumática se desenvolve 02 a 03 semanas após uma infecção por estreptococos, tais como infecções na garganta ou escarlatina. A faixa etária mais acometida pela febre reumática é a de crianças com idade entre 05 e 15 anos, embora possa ocorrer com uma frequência muita baixa em adultos após 18 anos de idade.
A doença pode afetar muitas partes do corpo, como cérebro, coração, articulações e pele.
A febre reumática pode causar danos permanentes ao coração, incluindo válvulas danificadas do coração e insuficiência cardíaca.
• Sintomas e diagnóstico
Sinais e sintomas da febre reumática - que resultam da inflamação no coração, articulações, pele e sistema nervoso central podem durar de algumas semanas a vários meses. Em alguns casos, a inflamação pode causar complicações a longo prazo.
O diagnóstico de febre reumática aguda é baseado nos critérios da American Heart Association e inclui critérios maiores e menores (os critérios modificados de Jones).
Consiste na evidência de uma infecção estreptocócica anterior aos sintomas “infecção de garganta” acompanhado de uma série de sinais e sintomas que podem variar de acordo com as manifestações predominantes:
• Acometimento cardíaco (cardite): pode ocorrer em até 40% dos pacientes e pode incluir cardiomegalia, sopro cardíaco novo, insuficiência cardíaca congestiva e pericardite
• Poliartrite migratória: ocorre em até 75% dos pacientes e é poliarticular, fugaz, migratória e envolve grandes articulações
• Nódulos sub-cutâneos : ocorrem em até 10% dos pacientes. Eles são firmes, indolores e localizam-se nas superfícies extensoras dos punhos, cotovelos e joelhos
• Eritema marginado: esta condição ocorre em cerca de 5% dos pacientes. A erupção é serpeginosa e persistente.
• Coréia (também conhecida como coréia de Sydenham e "dança de São Vito"): Este distúrbio do movimento característico ocorre em 5-10% dos casos
• Febre
• Alterações das provas de atividade inflamatória reumatológicas
• ASLO positivo: a presença do ASLO não confirma o diagnóstico de febre reumática, apenas indica o contato com a bactéria estreptococos. O que vai determinar o desenvolvimento da febre reumática é a predisposição genética do paciente para o desenvolvimento da doença.
Ou seja, os títulos anormais “elevados” de ASLO não confirmam o diagnóstico de febre reumática, podendo ocorrer em pessoas saudáveis que tiveram infecções de garganta de repetição.
• Tratamento
O tratamento da febre reumática consiste no uso de antibióticos e corticoterapia endovenosa para tratamento da cardite e prevenção de lesão cardíaca posterior.
A) Profilaxia primária - erradicaçäo do estreptococo - alternativas:
. Penicilina benzatina - 600.000 U (crianças até 25 kg)
1.200.000 U (crianças > 25 kg)
. Penicilina oral - 400.000 U de 6/6 hs por 10 dias
. Eritromicina - 40 mg/kg/dia divididos 6/6 hs por 10 dias
Completado o esquema de erradicação, inicia-se a profilaxia secundária.
B) Profilaxia secundária - tem por objetivo o controle das recorrências
da febre reumática por meio de um esquema antibiótico a longo prazo.
Este esquema deve ser instituído após um diagnóstico criterioso da doença, pois implica em muitos anos de tratamento.
A medicação de escolha é a Penicilina Benzatina, administrada a cada 21 dias:
Penicilina G Benzatina “benzetacil” 1.200.000 UI IM de 21/21 dias (peso > 25 kg). Nos alérgicos à Penicilina, recomenda-se a Sulfadiazina 01g VO para pacientes acima de 30 Kg. Já nos raros casos de pacientes alégicos à Penicilina e a Sulfas, recomenda-se a Eritromicina VO 250 mg de 12/12 horas
continuadamente.
Quanto à duração da Profilaxia Secundária, recomenda-se o
seguinte :
1 – Pacientes sem acomentimento cardíaco, durante a fase aguda:
Manter esquema de 21/21 dias até 21 anos, mas por tempo mínimo
de 05 anos, com preferência pelo período mais longo.
2 – Pacientes com acometimento cardíaco durante a fase aguda,
mas sem lesão residual, manter esquema de 21/21 dias até 25 anos, por tempo mínimo de 10 anos.
3- Pacientes com acometimento cardíaco, na fase aguda e com
lesão cardíaca residual, e aqueles operados e com implante de
prótese, manter o esquema de 21/21 dias indefinidamente.
• Complicações
A cardiopatia reumática é um dano permanente no coração causada pela inflamação da febre reumática. Os problemas são mais comuns com a válvula entre as duas câmaras do coração esquerdo (válvula mitral), mas as outras válvulas podem ser afetadas. O dano pode resultar em várias lesões cardiacas como: estenose ou insuficiência das válvulas cardiacas. Alterações essas que podem acarretar complicações como, insuficiência cardiaca e arritmias.
Como principal mensagem deste texo vale a seguinte recomendação:
“Os títulos elevados de ASLO não confirmam o diagnóstico de febre reumática, podendo ocorrer em pessoas saudáveis que tiveram infecções de garganta de repetição”
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